sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Por que o Brasil não consegue alfabetizá-la?


A erradicação do analfabetismo é o maior fiasco educacional do governo federal. Os adultos que não sabem ler e escrever ainda somam 14 milhões
Por: ANGELA PINHO
EDUCAÇÃO - 24/08/2011 19h21 - Atualizado em 25/08/2011 07h06
SALA DE AULA A doméstica Jaci Maria dos Santos numa sala de alfabetização em Embu, São Paulo. É sua segunda tentativa de aprender a ler e escrever (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)


"Jaci Maria dos Santos tem 63 anos, mas a primeira vez em que pisou em uma sala de aula foi no ano passado. Baiana de Vitória da Conquista, começou a ajudar a família na roça aos 5 anos. Seu pai não a deixava estudar. Rasgava os cadernos e quebrava os lápis que a mãe comprava. “Ele dizia que a gente tinha era que trabalhar, não ficar mandando carta para namorado”, afirma. Já adulta, Jaci foi morar em São Paulo e começou a trabalhar como empregada doméstica. Fazia trajetos longos a pé porque não conseguia decifrar o letreiro dos ônibus e tinha vergonha de pedir ajuda. No ano passado, tomou coragem e se matriculou em uma turma de alfabetização em Embu, na região metropolitana de São Paulo. Ela fez o curso até o fim, mas não se sentiu satisfeita com o aprendizado. Continuava com dificuldades para ler e escrever. Em março, resolveu reiniciar o mesmo curso.
Jaci é uma entre 14 milhões de pessoas que declararam não saber ler nem escrever ao Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Na contramão da melhoria recente de diversos indicadores sociais, o número ilustra um dos maiores fracassos da política educacional do país. Na última década, o Brasil obteve diversos avanços na educação. Conseguiu praticamente universalizar as matrículas entre as crianças e, ainda que devagar, começou a melhorar a qualidade do ensino. O índice de alfabetização na faixa da população com 15 anos ou mais, porém, pouco avançou desde 2003, quando o governo lançou o programa Brasil Alfabetizado, que prometia erradicar o analfabetismo em quatro anos.

Entre as justificativas das secretarias municipais de Educação para os baixos índices de sucesso estão a alta taxa de abandono dos cursos pelos alunos, dificuldades para acompanhar as aulas e problemas de visão. Não se pode, porém, responsabilizar apenas os alunos. Em 2007, uma auditoria do próprio ministério mostrou a existência de turmas fantasmas, o que resultou em um redesenho do Brasil Alfabetizado. O MEC passou a fazer convênios só com prefeituras e governos estaduais, não mais com ONGs. Além disso, especialistas em educação também apontam problemas estruturais no programa. Um deles é a formação dos alfabetizadores. Segundo o MEC, cerca de 40% dos professores são desempregados ou trabalhadores rurais, provavelmente atraídos pela bolsa mensal de R$ 250 a R$ 500 paga pelo governo, cujo valor é fixado conforme o número de turmas.

Embora muitas vezes tenham boas intenções, esses professores não têm nenhuma experiência de ensino. “Alfabetizar é uma tarefa extremamente complexa. Não basta força de vontade. Mas a tendência tem sido improvisar”, diz Timothy Ireland, especialista em educação da Unesco (braço da ONU para a educação e cultura) e diretor de Educação de Jovens e Adultos do MEC entre 2004 e 2007". 

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